ramblings about the dread of attempting to write something more fascinating than real lifeClick me!
As vezes me pergunto se todos somos iguais. Provavelmente não. Talvez sim. Só sei que após certo tempo fazendo terapia entrei em uma fase quase como que de luto. Luto por mim mesma, por quem era e por quem acreditei ser. Durante as sessões, várias foram as ocasiões que tive que questionar minhas crenças e minha visão, sobretudo sobre mim mesma. Conceitos e opiniões que considerava como máxima, não o eram. O que fazer quando quem você acredita ser não é realmente você? O que fazer quando perceber que você viveu uma vida que você achou que os outros quisessem que você vivesse? A única saída lógica, claramente, é ignorar tudo, enfiar seus questionamentos e sentimentos dentro do recinto mais obscuro do seu subconsciente e tentar retornar àquela pessoa que você fora, tentar reviver o que um dia te definiu para provar para você do presente que você era melhor, que você era sim feliz.
Assim começou minha jornada em tentar reviver meus dias de glória de juventude. Era a missão do meu trauma me mostrar que o passado era melhor, claro que era. E assim, voltei a escutar música do final dos anos 2000-início dos anos 2010, ler teorias sobre séries que terminei de assitir mais de meia década atrás, me informar sobre as celebridades que tiveram o auge de suas carreiras há mais de 15 anos, visitar subreddits que frequentei antes da pandemia e reviver antigos hobbies. Eu tinha certeza que seria arrebatada por felicidade, que eu seria transportada para tempos mais simples, tempos em que eu sabia quem era. Pois no fundo esse era meio maior medo. Se quem eu era não era real, quem sou? O passado me fornecia conforto e clareza. Ora, gosto de ler, de escrever, de assistir séries e ouvir pop. Fácil, direto e sem nuances, assim queria me definir. Negar quem eu era, era aceitar que eu não sei quem sou, não sei do que gosto e não sei o que quero. Não há pavor maior do que esse. Claro, que há. Mas para mim, tão envolta em minha própria situação, era o fim do mundo. Era meu apocalipse.
E como explicar o sentimento que me tomou quando retornei às minhas supostas raízes? Palavra nenhuma era competente o bastante para descrever minha jornada de desilução. Eu buscava alegria, mas encontrei o oposto. A cada mídia consumida para preencher meu vazio de ser, a cada música ouvida, a cada blog visitado, ao invés de silenciar as questões em minha mente, apenas revivi. Revivi a tristeza. A solidão. O ódio. A dúvida. Mas nesse processo obtive uma única certeza aquela não era eu. Como numa viagem no tempo, me vi vivendo aquela vida, mas não vi a mim mesma, aquela era uma estranha. Aquela pessoa estava morta. Tudo o que um dia amei, tudo o que um dia definiu quem eu era, que um dia me ajudaram a persistir hoje me trazem um sabor amargo, chamo de bad nostalgia.
Provavelmente, alguém muito antes de mim já explicou esse fenômeno. Tenho certeza que não sou o primeiro ser humano a passar por isso, algum grego deve ter falado sobre isso há milênios. Mas fiz minha parte e pesquisei na segunda pior fonte de informação da internet: o Reddit. Revisiting things from my past makes me sad. Respostas de diferentes anos para perguntas mais ou menos parecidas com a minha e o comentário mais comum era:"you feel sad because it takes you back to a time when things were better, easier, simpler and you suffer because you know you cannot go back". Dezenas de upvotes concordavam. Mas eu não. Minha tristeza não era pelo fato de não poder voltar, minha tristeza era pelo fato de não querer. Arte que amei, que dediquei horas da minha vida estão agora manchadas por melancolia, tristeza, solidão, raiva, dúvida. É para mim, impossível, apreciar essas obras sem sentir as emoções que conectei à elas. Música dos anos 2000 me lembra dos meus tempos de escola quando sofri bullying. Séries dos anos 2010 me lembram da minha solidão na faculdade. Tudo está contaminado, infectado e tudo o que quero é afastar-me de seu caractér virulento.
É talvez triste sentir tamanho desgosto por coisas que amei e que me trouxeram felicidade, mas estranhamente, sinto-me...bem. Prefiro quem sou hoje, prefiro o que gosto hoje. Não tenho tantos hobbies e sou mais exigente, mas se gosto de algo sinto sua energia moderna, refrescante, alegre e viva. No fundo, temo o dia que chegará que os interesses de hoje, também se tornem memórias amargas do passado.
grasshopper